quinta-feira, 17 de setembro de 2009

NÃO HÁ TEMPO - poesia de SANTOS, Sebastião Jacinto dos


O gesso do teu saber
Sustenta os ossos de
Minha benta ignorância!

Entra e senta sobre o pré-estabelecido,
Toma desta água baldenta do saber!

Multiplica nada sobre nada da tua inteligência
Que será igual ao “nada sei” dos sábios!

Renegas sentimentos, desejos!
Sejas sujeito subjetivado na ação,
Embora renegado no teu “ser” que vejo!

O que te falaram não pode ser definitivo!
Se aceitas, mataras a árvore que poderia ser frondosa
E já te julgas renegando ato e potência!

Se cortas o gesso da imposição: o que resta?
Um tempo desvinculado de sentido!
Um tempo que não dar tempo de
Adentrar tua ação sentida!

A criança que está em teu ser
Não foi acorrentada sob
A fome do saber!

Esse tempo atemporal
Engaiolou a tua liberdade
Que canta uma música ora triste,
Ora alegre, sobre
A pan-óptica do poder!

Dias são insuficientes
Nas amarras que relutam
Em ensinar uma literatura sem medidas!

Horas é só a face ignorante
De dias infindáveis que torturam
O travestido desejo de ser!

Não há tempo para ser!
Não há tempo para aprender a ser!
Não há tempo para aprender a ensinar a ser!
Não há tempo!

Há simplesmente uma produção de espaço
Muro espesso e descontínuo
Que sustenta uma porta
De entrar e sair para lugar nenhum!

Os cálculos das aberturas perderam
Seus compassos no fechar-se!
Ficaram trancafiados os cheios e os vazios
Em um quarto escuro!

As passagens são chaves
A revelar transparências
Isoladas no esquecimento
Onde não há tempo!

Há a produção de identidades através
Dessa máquina inventada
Para manipular o social,
Dona de uma técnica milenar
De construção de impressões!

Não há tempo para
Pensar, agir e reconhecer
A construção de mim mesmo!

Não há tempo!
Há uma revelação de um ser
Preso do outro lado do espelho de cristal líquido,
Perambulando sobre um espaço
Que a meus olhos é quadrado!

Não há tempo!
Para inventar a real identidade do ser,
Matar o que já se foi e em definitivo virou pó!

Só há negação,
Afirmação,
De dias e horas: não há tempo?

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